Dia 23 de janeiro é o Dia Internacional da Medicina Integrativa e como nem todo mundo sabe o que é, resolvi fazer um episódio aqui contando para vocês quais são os princípios que regem esse conceito, essa maneira de exercer o cuidado. A ideia desta data é para “inspirar o diálogo, educação, colaboração, iniciativas de pesquisa e programação sobre uma medicina centrada na pessoa, integral, que seja econômica e ambientalmente sustentável e consciente da integração de diferentes sistemas médicos que existem no mundo”.
Muito embora eu fale Medicina Integrativa a gente pode chamar esse conceito de Saúde Integrativa ou Cuidado Integrativo, já que não é exclusivo de médicos, mas sim algo que pode ser feito por todo profissional de saúde. Esse nome foi mudando ao longo dos tempos e provavelmente ainda vai continuar em Metamorfose.
Então, a Medicina Integrativa é uma FILOSOFIA DE CUIDADO que inclui a preferência por utilizar terapias não invasivas e modificações terapêuticas de estilo de vida que parecem aumentar nossa habilidade inata de cura do corpo. Isso é Medicina Integrativa. Para isso começamos o cuidado olhando para elementos que estão relacionados com a maneira como a gente leva a vida (alimentação, movimento com o corpo, um sono de boa qualidade, manejo do estresse, olhando os nossos vícios) e a partir disto buscamos modalidades mais naturais e menos invasivas, como meditação, acupuntura, yoga, massagem, que serão a nossa primeira linha de cuidado, sempre que possível e de acordo com "o gosto do freguês".
Essas abordagens são excelentes para condições crônicas. Para condições mais agudas - como uma pedra no rim, ou um resfriadão - é mais provável que a gente comece de cara com um remédio, e depois vamos "investigar" como está o organismo para que aquela situação tenha acontecido e como podemos melhorar o seu funcionamento a longo prazo.
A definição mais utilizada de Medicina Integrativa é: "Medicina Integrativa (MI) é uma medicina orientada para o restabelecimento/cura (healing), que leva em consideração a pessoa como um todo, incluindo todos os aspectos do estilo de vida. Ele enfatiza o relacionamento terapêutico entre médico e paciente, é informada por evidências e faz uso de todas as terapias apropriadas."
Essa definição é do The Bravewell Colaborative (https://bravewell.org/integrative_medicine/) , assim como os 8 princípios que norteiam a prática da Medicina Integrativa. Vou deixar o link na descrição do episódio para quem quiser aprofundar. Ai vão os princípios que regem a prática:
Não rejeita o convencional nem aceita indiscriminadamente o alternativo: Santa penicilina! Essa foi uma "droga" que realmente fez com que a gente vivesse mais, assim como a quimioterapia e uma série de cirurgias também fazem. Erra quem pensa que Medicina Integrativa é negar o uso de remédios e usar apenas ervas e terapias holísticas. Mas também erra quem pensa que, só porque damos preferências a tratamentos menos invasivos, a gente prescrever qualquer coisa diferentona sem muito critério e sem avaliar com um pensamento orientado pela ciência se aquilo de fato funciona e é bastante seguro. "A Medicina Integrativa não rejeita a medicina convencional nem aceita a medicina alternativa indiscriminadamente." Ou seja, na prática da Medicina Integrativa buscamos aliar o que há de melhor tanto na medicina convencional, quanto nas Medicinas Tradicionais, e na modificação de estilo de vida e terapias complementares, ressaltando a importância de que cada pessoa seja autônoma e responsável pelo seu próprio cuidado.
Intervenções efetivas que sejam mais naturais e menos invasivas podem ser utilizadas sempre que possível: Sempre que possível, utilizamos intervenções efetivas que sejam mais naturais e menos invasivas. Quanta coisa legal tem nessa frase! Vamos “dissecá-la”: sempre que POSSÍVEL, quer dizer que algumas vezes não conseguimos utilizar terapêuticas mais naturais. Por exemplo: se você está com uma crise de ciático, a gente não vai optar por massagem ou uma técnica de relaxamento. Vamos usar um remédio de dor potente, junto com um anti-inflamatório para resolver logo a sua dor. Mas se você repetidamente tem dor na região baixa das costas e percebe que isso piora quando você está mais ansioso, aí sim vamos sugerir Yoga, atividade física e técnicas de relaxamento. A outra parte da frase diz que usamos terapêuticas mais naturais e menos invasivas e que sejam EFETIVAS. Isto quer dizer que vamos olhar o que já foi feito de pesquisa para o uso da terapia e se ela realmente funciona. Meditação, por exemplo, funciona bem para as dores de cabeça relacionadas a tensão da musculatura da região do pescoço, mas não funciona se a sua dor de cabeça for causa da por um aneurisma cerebral!!!
“Uso apropriado tanto das terapias convencionais quanto das complementares facilitam a resposta inata de cura do organismo.” Parece um tanto místico e algo de outro mundo falar sobre resposta inata de cura do organismo, mas um dos princípios que regem a prática da Medicina Integrativa é esse: “Uso apropriado tanto das terapias convencionais quanto das complementares facilitam a resposta inata de cura do organismo.” E vou te dar um exemplo bem simples de como isso acontece: dias atrás eu estava brincando com uma cachorrinha super dócil, a Vida. Sem querer ela arranhou minha perna. Sangrou pra caramba. Lavei e deixei ali quietinho. Um dia depois já tinha uma casquinha e a casquinha foi endurecendo, coçou, até que começou a sair e uma pele bem rosinha apareceu por baixo. Assim foi, até que cicatrizou. Isso é o corpo curando sozinho uma ferida na pele - resposta de cura que é própria (inata) do organismo de qualquer ser vivo. Quando pensamos em usar as terapias complementares o que sabemos hoje é que muitas delas regulam a resposta de estresse no nosso corpo e tornam o ambiente dentro dele “menos inflamado” por agirem em um conjunto de genes que comandam a liberação de uma substância chamada NFkB. Assim, o ambiente do corpo fica mais adequado para uma série de remédios terem um efeito melhor. Essa combinação permite ao corpo ter suas ações mais efetivas neste processo inato de cura e o resultado tanto para tratar sintomas quanto para prevenir doenças é muito melhor.
Boa medicina é baseada em boa ciência. A Medicina Integrativa é orientada pela investigação científica e aberta a novos paradigmas. Ou seja: para que uma terapia seja incluída como possibilidade de uso ela precisa ser avaliada se realmente é eficaz e o mais importante de tudo: se não traz riscos à saúde. Então, se algo não foi avaliado pela ciência e estamos ainda “aprendendo” como funciona, a gente vai ter MUITO critério para indicar. Ainda mais se for algo invasivo - que entra dentro do seu corpo: algo que você toma ou algo que injeta no sangue. Os estudos científicos na área das terapias complementares estão cada vez melhores, utilizando métodos mais precisos e que nos mostrem se aqueles achados ocorreram ao acaso ou são mesmo pela terapia. Mas ainda há um caminho longo para termos dados robustos. Portanto, cabe a cada profissional ter responsabilidade não só no uso ou recomendação da terapia, mas também responsabilidade de explicar o que há e o que não há de evidência e o quão segura é aquela prática. A MI é aberta a novos paradigmas pois se dispõe a estudar as novas terapias e as novas maneiras de pensar a saúde.
“Todos os fatores que influenciam a saúde, bem-estar e doença são levados em consideração, incluindo mente, espírito, comunidade, bem como o corpo”. Acompanho há tempos um rapaz e sempre dou risada na consulta quando ele me conta que quando alguém está incomodando ele, ele diz: “A minha médica prescreveu para eu ser feliz, então não me incomode!”. Ele diz que depois da quimioterapia, e já se foram uns cinco anos, toda vez que alguém começa a chateá-lo ele diz que a minha recomendação era que ele fosse feliz. Essa brincadeira entre nós começou pois mesmo com a doença do corpo respondendo muito bem ao tratamento e com poucos efeitos colaterais, ele continuava agoniado. O que o mantinha “doente” era a preocupação com o trabalho, o dinheiro, se ia poder ir para a Itália aquele ano ainda. Minha função de cuidadora só se concretizou quando entendi que o tirava o bem-estar dele naquele momento não era o “tratamento médico” e começamos, juntos, a buscar estratégias para lidar com esses outros aspectos.
“Os profissionais devem ser exemplo dos princípios e estarem comprometidos com o conhecimento, investigação interna e o desenvolvimento de si mesmo” Cuidar da gente mesmo é uma questão de ética profissional quando pensamos na área da saúde. O profissional esgotado fica desatento, impaciente, com pouco espaço emocional para acolher a dor (física ou emocional) do outro. Dentro da filosofia da Medicina Integrativa, “os profissionais devem ser exemplo dos princípios e estarem comprometidos com o conhecimento, investigação interna e o desenvolvimento de si mesmo” Exercitar a autonomia de se cuidar permite que a gente esteja íntegro e inteiro ao cuidar do outro.
“Ao longo do conceito do tratamento, conceitos mais amplos como promoção de saúde e prevenção de doenças são primordiais”. Médico sabe muito sobre doença. É verdade. Mas será que a gente se preocupa em saber sobre saúde? Uma das coisas que me fascina na Medicina Integrativa é o fato de que ela não visa apenas TRATAR DOENÇAS ou resolver um sintoma. A visão é muito mais ampla e envolve PREVENIR DOENÇAS, através de modificações do estilo de vida e PROMOVER SAÚDE, ou seja, trazer a atenção para que a gente se cuide e tenha atitudes que façam a nossa saúde ficar cada vez melhor.
“Profissional de saúde e o paciente são parceiros no cuidado” Onde foi que eu me perdi? Vira e mexe ouço isso no consultório, a angústia de não saber como a gente se desconectou da gente mesmo e aquela inquietação de como fazer para se reconectar. Bem, não adianta o médico falar o que a gente tem que fazer. Cuidar de uma doença, ou cultivar a saúde, é algo que a gente faz com a gente mesmo, dia a dia, na nossa intimidade. Não há uma relação de hierarquia, em que o médico diz o que é bom e o paciente faz aquilo, e sim uma relação de parceria em que, juntos, criam um caminho que faça sentido para o paciente e ele percorre com o apoio dos profissionais de saúde, sempre que necessário
Ou seja, medicina integrativa não é uma especialidade, mas sim uma filosofia de cuidado, que integra corpo, mente, emoções, comunidade e espiritualidade ao cuidado. Integra técnicas mais naturais e menos invasivas com o que há de melhor na medicina moderna. Integra a pessoa que está sendo cuidada com a equipe de saúde e todos estão lado a lado no ato de cuidar, de si mesmo, do outro, da comunidade, trazendo recursos para que cada pessoa tenha autonomia para perceber as suas necessidades físicas e emocionais e se cuidar Resumindo em uma frase, na Medicina Integrativa, Saúde a gente cultiva todos os dias
Queridos, por hoje é isso! Se você gostou do programa e quer inspirar mais pessoas a se cuidarem, você pode ajudar o Desestresse a chegar a mais pessoas classificando ou dando estrelinhas para o podcast ai na sua plataforma de audio, compartilhando os episódios nas suas redes sociais ou no whatsapp e se você tem sugestões de temas para os próximos episódios ou quiser bater um papo comigo estou lá no Instagram @drasanguebom ou no email podcastdesestresse@gmail.com
A pesquisa, o roteiro e narração deste episódio foram feitos por mim, Regina Chamon. A edição de áudio é do Sr A e a arte da capa é da Laís Pedrita. Te vejo daqui a 2 semanas! Um beijo, gente
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