Você já experimentou meditar, já leu bastante sobre o tema, conversou com pessoas, até fez aulas de como meditar. Mas já pensou um pouco sobre quando e como surgiu esta prática?
Há cerca de 800.000 anos, com a descoberta do fogo, é possível que nossos ancestrais tenham tido as primeiras experiências de estado alterado da consciência, ou seja, de êxtase. Ao passar longas horas olhando as chamas é provável que os demais sentidos fossem suprimidos e houvesse um afastamento da consciência do padrão de luta-fuga em direção a um estado mais calmo de repouso ao invés de ansiedade.
Essas práticas chamadas de protomeditativas também aconteciam provavelmente com os caçadores primitivos, pois naquela época eles contavam com armas muito rudimentares para caçar e precisavam chegar bem próximo das suas presas. Para isso era necessário manter o corpo praticamente imóvel, integrado à natureza e varrer da mente os pensamentos ansiosos. Através desta autodisciplina é provável que eles atingissem um estado meditativo de maneira espontâneo.
Os primeiros relatos escritos de um estado meditativo voluntariamente provocado são vistos na Índia de 1.500-1.000 aC no Rig Veda. Mas foi só em 300aC, na China, através de escritos dos Mestres Lao e Chuang que começamos a ver a descrição de um uso sistemático das disciplinas meditativas.
Falando assim fica a impressão de que a meditação é algo exclusivo da cultura oriental. O que não é verdade, embora na cultura oriental haja mais registros sobre a prática e ela seja ensinada com uma frequência maior. Mas na cultura Ocidental vemos a prática da meditação em várias tradições, da Cabala no Judaísmo a rituais cristãos.
Já a abordagem científica da meditação começa a ser objeto de estudos na década de 1950 do século XX, ainda de maneira muito tímida. Por volta de 1968 começa a primeira grande “moda” da meditação no Ocidente através das Meditação Transcendental, que ficou conhecida por conta do movimento da Contracultura e de artistas como os Beatles que a praticavam. No final da década de 70, o Dr. Herbert Benson descreve a Resposta de Relaxamento e a partir disso cresce o interesse da ciência por esta prática. Tem início uma segunda grande onda de “moda” da Meditação, com a descrição da prática de mindfulness por John Kabat-Zinn.
Mas ainda era difícil falar cientificamente sobre uma prática que tinha tantas variáveis e tantos jeitos diferentes de abordar. Então, em 2004 temos a publicação de Definição Operacional da Meditação pelo pesquisador brasileiro Dr Roberto Cardoso. A partir desta publicação é possível colocar as diferentes práticas dentro de um ponto em comum e reprodutível, o que garante mais condições de falar sobre a Meditação do ponto de vista de método científico.
Em breve a gente retoma este tema e fala um pouco mais sobre estas percepções históricas.
Fonte de pesquisa: “Do Xamanismo à Ciência – Uma História da Meditação”. Johnson, Williard. Editora Cultrix.
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